quinta-feira, 3 de setembro de 2009

NAS ENTRELINHAS...SABEDORIA.

"RAPOSA
Bom dia

PEQUENO PRÍNCIPE
Bom dia

RAPOSA
Eu estou aqui.

PEQUENO PRÍNCIPE
Quem és tu? Tu és bem bonita...

RAPOSA
Eu não posso brincar contigo. Não me cativaram ainda.

PEQUENO PRÍNCIPE
Ah! Desculpa. Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
Tu não és daqui. Que procura?

PEQUENO PRÍNCIPE
Procuro os homens. Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
Os homens têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?

PEQUENO PRÍNCIPE
Não. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
É uma coisa muito esquecida. Significa "criar laços".

PEQUENO PRÍNCIPE
Ciar laços?

RAPOSA
Exatamente. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

PEQUENO PRÍNCIPE
Começo a compreender. Existe uma flor... Eu creio que ela me cativou...

RAPOSA
É possível. Vê-se tanta coisa na Terra...

PEQUENO PRÍNCIPE
Oh! Não foi na Terra.

RAPOSA
(Intrigada) Num outro planeta?

PEQUENO PRÍNCIPE
Sim

RAPOSA
Há caçadores neste planeta?

PEQUENO PRÍNCIPE
Não.

RAPOSA
Que bom! E galinhas?

PEQUENO PRÍNCIPE
Também não.

RAPOSA
Nada é perfeito. Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...Por favor... cativa-me!

PEQUENO PRÍNCIPE
Bem quisera, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

RAPOSA
A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

PEQUENO PRÍNCIPE
Que é preciso fazer?

RAPOSA
É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...Será melhor voltares à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ficar feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

PEQUENO PRÍNCIPE
Que é um rito?

RAPOSA
É uma coisa muito esquecida também. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.

PEQUENO PRÍNCIPE
Agora eu vou embora.

RAPOSA
Ah! Eu vou chorar.

PEQUENO PRÍNCIPE
A culpa é tua. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

RAPOSA
Quis.

PEQUENO PRÍNCIPE
Mas tu vais chorar!

RAPOSA
Vou.

PEQUENO PRÍNCIPE
Então, não vais lucrando nada!
RAPOSA
Eu lucro, por causa da cor do trigo. Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. (O príncipe vai até as rosas)

PEQUENO PRÍNCIPE
Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo. (As rosas ficam desapontadas) Sois belas, mas vazias. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um traseunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa. (O príncipe volta à raposa) Adeus.

RAPOSA
Adeus. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

PEQUENO PRÍNCIPE
O essencial é invisível para os olhos..

RAPOSA
Foi o tempo que perdeste com tua rosa que faz tua rosa tão importante.

PEQUENO PRÍNCIPE
Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa...

RAPOSA
Os homens esquecem essa verdade. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

PEQUENO PRÍNCIPE
Eu sou responsável pela minha rosa..."

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